O dado apontado pelo DPvat é refletido nos casos registrados nos hospitais de emergência e trauma em João Pessoa e em Campina Grande. Geraldo Medeiro explica que, somente no Hospital de Trauma de Campina Grande, o maior em número de atendimentos no estado, 70% dos pacientes que dão entrada são vítimas de acidentes com motocicletas.“O anteparo do motociclista é o próprio corpo, as vítimas são geralmente politraumatizados e requerem atenção de multiprofissionais, de várias especialidades. Temos recebido nos hospitais de traumas fraturas cada vez mais complexas, gastando com próteses cada vez mais caras e pacientes com longo tempo de internação”, detalhou o secretário de saúde, que foi diretor do Hospital de Trauma de Campina Grande por oito anos.
Por mês, o Hospital de Trauma de Campina Grande realiza média 850 atendimentos de vítimas de acidentes com motos, enquanto o Hospital de Trauma de João Pessoa atende 750 vítimas acidentes com motocicletas mensalmente. O número inferior no hospital de João Pessoa em relação ao de Campina Grande, apesar da capital ter quase o dobro da população, se dá pela divisão dos atendimentos com o Hospital de Ortotrauma de Mangabeira.
“O Hospital de Trauma de Campina Grande atendeu vítimas de acidente de moto de 331 municípios do Brasil, neste caso, de cidades de estados vizinhos. Atualmente o Trauma de Campina representa o maior movimento de trauma do estado”, completou Medeiros.
Saída pela conscientização
O aumento gradativo do número de veículos e da população paraibana deve agravar ainda mais o número de pessoas vítimas de acidente. Uma projeção feita pelo G1 indica que, a depender da média de crescimento do número de veículos no estado nos últimos oito anos e das estimativas populacionais feitas pelo IBGE, o número de veículos pode superar o de habitantes na Paraíba no ano de 2060.
As facilidades de financiamento e o baixo custo de aquisição e manutenção fazem das motocicletas as maiores responsáveis pelo crescimento vertiginoso da frota de veículos na Paraíba e no Brasil.
“Em 2000 tínhamos 50 mil motos, atualmente temos algo em torno de 530 mil motos no estado. Mesmo que a gente consiga diminuir 10% dos acidentes, em números absolutos, esses eventos devem continuar crescendo vertiginosamente por conta do aumento desse tipo de veículo. Cerca 65% das cidades do Brasil já tem mais motos que carros”, comentou Geraldo Medeiros.
Segundo dados do Detran-PB, entre 2011 até março de 2019, dado mais recente disponibilizado, a frota total de veículos, incluindo motos, cresceu aproximadamente 72%, passando de 763.618 veículos para 1.316.793 veículos.
A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de João Pessoa (Semob), cidade paraibana que tem maior população e, naturalmente, maior frota de veículos, investiu, somente em 2018 cerca de R$ 490 mil em campanhas educativas pela paz no trânsito. O superintendente adjunto da Semob, Wallace Massini, em entrevista ao G1, explicou que a Prefeitura de João Pessoa deve iniciar neste ano as obras da Escola Municipal de Trânsito, que terá um papel essencial no trabalho de educação.
Confira entrevista com Wallace Massini
G1 - Quais são os investimentos feitos pela Semob em campanhas de conscientização em 2018?
Wallace Massini - Só no ano de 2018 a Semob-JP, por meio de sua Divisão de Educação para o Trânsito, realizou um total de 267 ações educativas, envolvendo atividades em escolas, empresas, hospitais e, principalmente, nas ruas, além de campanhas fixas como Paz no Trânsito, o Maio Amarelo e Amando o Próximo no Trânsito, voltada para as igrejas. As campanhas envolvem orientação, demonstrações e distribuição de material educativo, tendo como principal objetivo o alerta aos condutores e pedestres sobre a importância do respeito às leis de trânsito para a garantia da segurança viária. Entre os principais temas estão o compartilhamento de espaços, excesso de velocidade, uso do celular ao volante, bebida e direção e o uso da faixa de pedestre. Só em 2018 foram investidos R$ 490 mil em campanhas. Além disso, devem ser iniciada em 2019 as obras da Escola Municipal de Trânsito, que terá um papel essencial no trabalho de educação.
G1 - Quais são os mecanismos que a Semob tem implementado com objetivo de reduzir o número de acidentes de trânsito e consequentemente o número de mortes?
WM - A Semob-JP trabalha com foco na Educação para o Trânsito, mas também cumpre seu dever no que se refere à fiscalização, por meio de seus agentes de mobilidade urbana e das câmeras de monitoramento, e punição, dentro das infrações previstas pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O controle de velocidade das vias é um dos principais instrumentos para a redução do número de acidentes, o que é buscado por meio da instalação de lombadas eletrônicas e radares. É o caso da Orla da Capital, onde não foi registrado qualquer caso de morte desde que passou a ter limite de velocidade controlado por radares.
G1 - O aumento da frota é uma das causas pra o grande aumento de mortes e acidentes. A Semob entende que reduzir a frota oferecendo mais alternativas de transporte público ou que oferecem menos riscos é uma das formas de reduzir o alto número de mortes no trânsito? Quais investimentos e planejamentos voltados pra o transporte público?
WM - Toda a política pública elaborada pela Semob-JP tem como foco principal o transporte coletivo urbano e os meios de deslocamento sustentáveis, como a bicicleta. Uma das ações que visam estimular o uso dos ônibus urbanos foi a implantação das faixas exclusivas nos principais corredores da Capital, que reduzem em cerca de 15 minutos o tempo de deslocamento, a depender do trajeto. Além disso, a Semob atua na fiscalização do serviço de transporte, verificando a qualidade dos veículos e a prestação adequada do serviço, incluindo o cumprimento dos horários e itinerários. No que se refere ao planejamento, há uma série de ações em desenvolvimento que devem facilitar a vida de quem anda de ônibus, como o corredor troncal da Av. Pedro II e o Terminal de Integração do Valentina, que vão tornar mais rápido o deslocamento da Zona Sul, área mais populosa da Capital, ao Centro. Essas obras também vão possibilitar o aumento do número de viagens das linhas de bairro, o que vai reduzir tempo de espera.
G1 - Há algum diálogo com outras instâncias do poder público para ser firmado um trabalho cooperativo para desenvolver soluções para combater a escalada das mortes no trânsito?
WM - A Semob-JP atua periodicamente em Blitz de fiscalização ao lado de órgãos como o Ministério Público, BPTran e Detran.
FONTE:https://g1.globo.com