Em 2017, os ataques a transportadoras de valores caíram para três casos. E neste ano ocorreram duas investidas a bases – uma no dia 6 de fevereiro em Eunápolis, na Bahia, e outra no dia 1° de abril em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
“Em função dessa ação positiva em relação a bases de transporte de valores, a gente percebe uma migração das tentativas de assalto a carros-fortes”, afirma Shechter.
Ataques contra bases operacionais e carros-fortes (Foto: Juliane Monteiro e Karina Almeida/G1)
Além de usar explosivos para roubar o dinheiro dos veículos, a violência dos assaltantes tem deixado vigilantes mortos e feridos nos confrontos. Levantamento do G1 a partir de dados da ABTV e Contrasp aponta que ao menos dez vigilantes foram mortos e outros 51 ficaram feridosdurante ataques a carros-fortes e bases entre 2017 e o primeiro semestre deste ano.
"Em 2018, nós já tivemos quatro mortes de companheiros vigilantes que perderam a vida transportando numerário nessas estradas em todo país", lamenta João Soares, presidente do Contrasp.
Há relatos ainda de policiais e até de pedestres que morreram ou se machucaram durante os ataques. Apesar de alguns grupos que atacam carros-fortes terem sido presos, outros continuam soltos devido à dificuldade das polícias em identificá-los. Muitos usam máscaras, por exemplo.
Para a ABTV, a redução dos ataques passa pelo maior controle do tráfico de armas, que é feito pela Polícia Federal (PF) nas fronteiras e, paralelamente, pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) nas estradas e pelas forças de segurança nos estados.
“A atuação das autoridades tem sido bastante eficiente no sentido de identificar e utilizar meios de inteligência para coibir ações”, admite Schechter, presidente da ABTV, que, no entanto faz uma ressalva. “Mas ainda existe muito trabalho a ser feito: o controle de armas, o controle do tráfico de armas, o controle mais rígido de explosivos”.
Criminosos usam armas de guerra para intimidar seguranças (Foto: Juliane Monteiro e Karina Almeida/ G1)
Enquanto criminosos usam metralhadora .50, capazes de derrubar aeronaves, fuzis e explosivos, que abrem ao meio um carro-forte, vigilantes tentam se defender com um revólver 38 e escopetas calibre 12.
De acordo com Silva Filho, a solução para se reduzir os ataques a carros-fortes está numa medida, que ele considera mais inteligente. "O dinheiro, se for destruído cada vez que for tentar manipular os malotes, simplesmente os assaltos vão desaparecer", conta o especialista. Ele cita, por exemplo, o uso de um dispositivo com tinta para manchar as notas.
O que dizem os órgãos de segurança
O G1 procurou as assessorias de imprensa da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e também das secretarias de seguraça de São Paulo e da Bahia – os estados que mais concentraram ataques neste ano. Veja a resposta dos órgãos:
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, a 5ª Divisão de Investigações de Crimes Contra o Patrimônio (DISCCPAT), do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil, "realiza ações constantes visando coibir os crimes de assaltos a carros-fortes."
Ainda segundo a pasta da Segurança de São Paulo, "as ações realizadas permitiram a redução de 50% dos casos neste ano em relação ao mesmo período ano passado. Além disso, o trabalho policial possibilitou a queda de 75% dos ataques a bases de transporte de valores e de 85,7% dos sequestros de funcionários das empresas de transportes no ano passado em comparação com 2016."
De acordo com a SSP, "outro fator importante que contribuiu para a queda dos casos foi a prisão de duas pessoas, em Itupeva [interior do estado], e de oito homens, integrantes de uma quadrilha especializada, em novembro do ano passado, na Zona Leste" de São Paulo.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou que a maior parte das estradas por onde os carros-fortes passam não tem fiscalização policial porque as empresas não informam as rotas e horários de trânsito dos seus veículos. "Eles se negam a dar as informações, com a alegação de que a polícia pode vazar para bandidos", informa nota da assessoria.
Por meio de nota, a PF informou que "com relação ao tipo de crime citado, a Polícia Federal, como polícia judiciária da União, apura os crimes de roubos de repercussão interestadual e internacional, bem como aqueles praticados contra o patrimônio da União, a exemplo de empresas públicas."
Segundo a PF, "dessa forma, a investigação de roubo a carros-fortes, em regra, não é de atribuição da Polícia Federal. Nossas investigações, nesse sentido, têm como foco o combate a facções criminosas e ao tráfico de armas."
A Polícia Rodoviária Federal não se posicionou sobre o aumento de casos de ataques a carros-fortes até a publicação desta reportagem.