Para chegar a se tornar um fornecedor da CoopNatural, Manoel Calixto Dantas, assim como os demais plantadores de algodão colorido, precisou se adequar às condições da produção orgânica. A primeira e mais importante mudança foi o fim do uso de agrotóxicos ou pesticidas para combater o bicudo, praga que ainda assola muitas plantações algodoeiras.“Eu nunca imaginei que usar detergente com óleo de cozinha funcionaria melhor do que veneno”, confidencia o agricultor. Foi após ser beneficiado pelo projeto Algodão Paraíba, desenvolvido pela Emater-PB, com ajuda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que Seu Manoel aprimorou o cultivo não apenas do algodão, mas das demais culturas do seu roçado.
O Projeto Algodão Paraíba ajuda a distribuir sementes do algodão colorido e a plantar as sementes de forma que a produção atenda aos requisitos agroecológicos. Vlaminck Paiva Saraiva, diretor-técnico da Emater, destaca que no ano passado o projeto contou com a participação de 40 agricultores familiares, plantando em torno de 40 hectares, com uma produção colhida de 22.559 kg de algodão em rama. “Para 2018 já temos inscritos 283 agricultores familiares para plantar 364 hectares, em 30 municípios”.
Presente no brasão do estado. Propulsor econômico da região Agreste. Responsável por tornar Campina Grande a Liverpool brasileira nos anos de 1940. A relevância da Paraíba na produção algodoeira data do final do Século XIX, com seu apogeu na metade do Século XX e declínio em meados de 1980.
Matheus Guimarães, mestre em História pela UFPB, explica que o aumento da produção algodoeira na Paraíba acompanha o crescimento agrícola vivido em todo o Brasil, em um período denominado pelo historiador Caio Prado Júnior como Renascimento Agrícola.
“A Revolução Industrial, flagrante nesse período, foi puxada pelas indústrias têxteis. Por uma questão política, a Europa diminui a compra do algodão produzido pelos EUA e passa importar grande parte do algodão brasileiro. É nesse momento que a Paraíba ganha destaque nesse setor agrícola”, explicou. No embalo próspero do algodão, foram aprovadas entre 1936 e 1957 seis leis estaduais que incentivaram o plantio na Paraíba.
Seis leis estaduais entre as décadas de 1930 e 1950 ajudaram a incentivar o plantio do algodão na Paraíba (Foto: Reprodução/al.pb.leg.br/leis-estaduais)A profusão dos algodoeiros no início do Século XX foi tamanha, que os governadores da época chegaram a temer que os agricultores deixassem de plantar mandioca, segundo conta Matheus Guimarães. Após a queda de 1980, o algodão voltou ao foco econômico paraibano somente em meados de 1997, após a Embrapa desenvolver sementes de algodão colorido naturalmente com objetivo de fomentar a agricultura familiar.
É neste contexto de relevância produtiva da agricultura familiar e em assentamentos que as cooperativas são inseridas, conforme o superintendente da OCB/Sescoop-PB. “A cooperativa fortalece a agricultura familiar, atuando como agente de desenvolvimento local, e garante um produto final de qualidade. Acho que é um exemplo muito importante para a Paraíba e para todo o país, pois quando se fala em algodão colorido o nosso estado é referência”.
Da terra arrendada de 10 hectares em Ingá, Manoel Calixto, talvez sem saber, resiste na tradição paraibana de exportar algodão para Europa. Não diretamente, como os grandes produtores de algodão da Paraíba da metade do Século XX, mas como parte de um processo integrado, cooperado, e genuinamente paraibano.
Com representantes na Espanha, Itália, Noruega, Alemanha, Suíça e Holanda, a CoopNatural exporta em forma de roupa e acessórios o algodão colorido de Seu Manoel e tantos outros agricultores paraibanos. Distante do glamour da moda, Seu Manoel segue colhendo o que herdou. Aprimorando o que o pai lhe ensinou aos sete anos. Mantendo viva uma tradição paraibana centenária.
“Sempre plantei e enquanto vida eu tiver, vou continuar plantando. O algodão é parte da minha história”.